



Para além da arte na rua existe um “Eu”. Que deixando impressões, mostra que está viva.
Adentrar a subjetividade de alguém é algo profundo e lido como complexo. Que lugar não mais subjetivo que o quarto de alguém?! onde tudo começa ou termina, como o escurecer da noite ou clarear do dia.
São sonhos, questionamentos, inspirações e a vida!
O olhar no espelho e o conhecimento de um pronome único: “Eu”

Pronome: Eu

SUBSTANTIVO:
.CRIATIVIDADE - CRIA ATIVA
Criatividade é substantivo feminino também!
Criação é processo e nesse percurso as vivências, experiências e lutas se transformam em inspiração, o que são?
As crias ativas por onde passam transformam qualquer detalhe e baluarte em obras de arte.

como se dá seu
processo artístico?
gugie

O processo criativo começa na relação das pessoas com a sua obra, o que a pessoa vivencia e observa no seu trabalho. Suas produções carregam suas relações afetivas pessoais e Gugie costuma fotografar suas modelos antes de criar, principalmente suas filhas. Gosta de utilizar cores que remetem ao aconchego, como roxo e amarelo.
gugie


Começa com o estudo do entorno, fotografando e marcando a localização. Faz uma análise de como irá subir e descer e quanto tempo vai levar para realizar o trabalho. O planejamento é a parte mais importante, principalmente quando são escaladas maiores, nesses casos normalmente ela usa algum elemento do prédio como parâmetro para separar bem as letras e poder se orientar durante a escalada em que espaço vão as letras.
eneri




Nas palavras da artista, seu processo criativo é lento mas gostoso, já que acontece no seu momento e principalmente, sem cobranças, de forma espontânea. Para Re, a parte mais importante na composição de músicas é estar bem, tanto psicologicamente, quanto fisicamente, pois ela acredita que quando não se tem estrutura e tem vários problemas sociais atravessando seu processo criativo, o trabalho acaba não saindo da forma que ela gostaria.
Re Moraes
Para Zara, seu processo criativo é muito íntimo, pessoal e alternativo. Cada trabalho é feito de uma forma, mas gosta de utilizar sentimentos de melancolia e baseados em momentos difíceis para criar. Faz o uso de técnicas para a parte lírica, brincando com as palavras entre si e gosta de falar frases extensas, onde tenha dificuldade em respirar e de forma narrativa, mais concreta, expressando a visualidade nas suas composições.
zara dobura
o que te inspira?
gugie


Laços afetivos.
Gugie se inspira nos seus vínculos de afeto para criar, como suas filhas e sua avó. Costuma produzir a partir de questões sociais como ser mulher, mãe, negra e artista dentro da sociedade, além da humanização do corpo e do ser mulher.
gugie


Mulheres.
Saber que outras mulheres estão inseridas nesse meio, já que ela teve o seu desbloqueio através de uma mulher, saber que ela pode passar essa mesma mensagem para outras mulheres saibam que elas não são fracas e são capazes de dominar o ambiente urbano. Ver uma crescente de *minas* no movimento da pichação é o que mais a fortalece.
eneri
A fênix.
Para Laddy Dee, a fênix representa o morrer e renascer, aquela que renasce das próprias cinzas, simboliza a resistência e a potência de se levantar diante dos problemas e dificuldades. A artista faz referência ao pássaro da mitologia grega em suas músicas, como na produção "Passos Sombrios".
Laddy Dee



Ver outras pessoas criando.
No início de sua carreira, Re achava que era a única atuando no rap, então ver outras artistas criando e ter a oportunidade de trabalhar com elas a deixa inspirada. Re também mencionou o caso de uma artista travesti que foi sua primeira inspiração na adolescência e que mais tarde teve a oportunidade de fazer uma música em conjunto.
Re Moraes
A música. Em suas palavras: "A música penetra no meu corpo e vibra, vibra no meu braço, no meu peito, e parece que ativa lugares que estou guardando". Zara gosta do diferente, que cause estranhamento e que, na sua visão, pode ser considerado inovador, como por exemplo o estilo Cyberpunk. Gosta de se comunicar com outras culturas, sendo as culturas oriental e japonesa suas favoritas. Se inspira em signos nas performances e artistas trans, como Linn da Quebrada, Liniker, Jup do Bairro, Monna Brutal, Rosa Luz, Re Moraes, entre outras.
zara dobura

Símbolos católicos.
A artista se inspira em símbolos da religião católica, como o sagrado coração, a cruz (porém invertida) e a cobra, mas com o objetivo de fazer crítica à desumanização de pessoas trans que são ditas anormais pela igreja. Quer "mostrar que sagrado não é apenas o normativo".
Vulcanica



VERBO: AGIR
Ação, mulher na rua é ação.
Fazer arte na rua não é fácil Jão!
Nos trabalho elas se garantem, chamam atenção.
Mas existe muito assédio e repressão.
O grito é forte, a cidade é uma, mas elas várias
sempre agindo política e socialmente nesta urbana ocupação.

O assédio se caracteriza por condutas excessivas dirigidas a uma pessoa ou grupo específico por meio de comportamentos de natureza ofensiva que perturba ou importuna, que acontece de forma recorrente e que afetam e trazem danos à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, ou grupo.
Cantada, assovio, olhares, importunação, insistência, inconveniência, obsessão, insistência impertinente em se aproximar de alguém, incomodar, “elogios” de gosto duvidoso, perseguir, molestar, constranger, piadas ofensivas, intimidadoras ou incômodas, xingamentos, apelidos ofensivos ou calúnias. Todas essas são formas de assédio.
Os tipos mais comuns de assédio são: moral, sexual e virtual. Se você foi vítima de assédio, procure alguém de confiança para conversar, busque auxílio psicológico, atendimento médico, consulte orientação jurídica e denuncie o agressor: registre um boletim de ocorrência em qualquer delegacia ou na Delegacia das Mulheres ou ligue para o Disque-Denúncia.
Assédio em espaço público:
das mulheres já foram vítimas de assédio em meios de transporte
assédio
A transfobia é qualquer ato desrespeitoso, preconceituoso e discriminatório dirigido contra a identidade de gênero de uma pessoa. Está incluso o uso de pronomes errados, os comentários maldosos, olhares e risadas, “piadas” e também “[...] diz respeito a quaisquer atitudes inferiorizantes, degradantes ou humilhantes que pode ou não incluir agressões físicas, verbais, simbólicas, materiais, patrimoniais e/ou psicológicas manifestadas com o intuito de violar direitos, negar acesso ou dificultar a cidadania, [...] de travestis, transexuais e demais pessoas trans, quando sua identidade de gênero for um fator determinante para essas violências ou violações, seja por ação direta ou por omissão” (ANTRA, 2022, p. 15-16).
Muitas das vezes as importunações não se encerram em si e avançam para a violência, resultando em morte. O Brasil, segundo a ONG Transgender Europe (TGEU, na sigla em inglês), é o país que mais mata pessoas trans e travestis pelo 13° ano seguido. Não sendo a toa que a expectativa de vida dessas pessoas aqui no país seja de:
enquanto a população em geral é de 74,9 anos.
Quantas pessoas trans e/ou travestis idosas você conhece?
Isso além de afetar um ciclo inteiro de vida, está intimamente ligado às "oportunidades" no mercado de trabalho disponíveis para as pessoas trans e travestis:
“Remuneração também é difícil na rua, o chapéu é democrático, mas às vezes só isso não é o suficiente pra comer no dia e voltar pra casa.”
ZARA
transfobia

COLETIVOS
Uma das formas encontrada pelas mulheres para ocupar as ruas e produzir arte são os coletivos ou crews: esses grupos têm como princípio promover a visibilidade das artistas, multiplicar suas potencialidades, acolher seus sentimentos e questionar as normas vigentes para que uma outra história da arte seja escrita, tratando de pautas como a liberdade dos corpos, o direito a ocuparem os espaços, de denúncias sobre violências, descasos e dessa forma revelam talentos incríveis manifestos a partir de desenhos, poemas, performances, danças, músicas…
COLETIVO PI
Você, mulher, artista ou não, acompanhada ou sozinha, não deixe de ocupar a rua (COM SEGURANÇA), mesmo com todas as dificuldades que nos rodeiam, porque somente assim nós conseguiremos espaço nela, seja para se expressar, para trabalhar, para curtir, para viver…
MINAS DE MINAS
BATALHA DAS MINAS FLORIPA
“A cidade pode ser agressiva, mas também pode ser acolhedora.”
GUGIE


“A rua é mundo cão. É faca, navalha. É a cara da morte a todo momento. Vacilou, um passo em falso, um erro, no ponto. Uma falha um retalho, remato sangrento. Na rua não tem paz pra mim ou pra mana. A polícia, o cliente, o tráfico, o ocó. Eu vivo numa selva urbana, insana É a cidade inteira que quer me matar! Você não duraria nem ao menos 10 minutos, se estivesse em minha pele pelas ruas da cidade. Você não duraria...”
Trecho do Musical Brenda Lee e o Palácio das Princesas.


Substantivo Admiração:
.Obras das artistas
O movimento de Arte de Rua tem como característica utilizar pautas sociais e de políticas reivindicatórias como inspiração. Para a partir disso trazer contemplação.
Mulheres e seus frutos.
Agregando suas realidades, criação de técnicas e conjuntos.
Finalmente a admiração da produção e de lutas.

re moraes
Música 'Na pista fritando'
Re Moraes participa de batalhas de rua e hip-hop desde 2018. É multiartista, atuando como cantora, compositora, modelo, atriz , performer e dirige clipes.
A música “na pista fritando” (de 2017), fala sobre os contextos de vida que estava vivendo, marcando os acontecimentos, mesmo que por vezes querendo esquecer das memórias.
Música do primeiro clipe solo que lançou, e foi quando começou a rimar nas batalhas das minas e participar da coletânea. Foi nessa época que se encontrou como artista, representando o início da Re Moraes, mesmo sem saber quem se tornaria hoje.

laddy dee
Música 'Cria do Gueto'
Desde os seus 14 anos trabalha como auxiliar de serviços gerais, de onde vem seu sustento. Somente com a música, que é a sua grande paixão, ela não consegue se manter.
Seus raps são feitos em forma de discurso, com batidas mais aceleradas que falam sobre as dificuldades que as cidades periféricas/gueto passam, utilizando o vocabulário do gueto.

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eneri
Tanto teto vazio e tanta gente sem casa…
Eneri é uma artista visual que usa seus pixos com sensibilidade instigando os pontos de vista. Escala prédios altos para deixar a sua TAG/marca.
Com a arte “tanto lugar vazio e tanta gente sem casa” visa trazer o olhar crítico às pessoas que estão em situação de rua.
Em outra via problemática, determinadas pessoas acham a pixação algo ofensivo, seja pelas linguagens ou pelas denúncias.
Técnica artística: a pichação pode ser uma tag e frases, feitas em muros, prédios e demais superfícies, utilizando o spray. Essa arte é uma forma de se expressar, e é considerada crime no Brasil.
Obra pode ser encontrada na página de instagram da artista @eneri.psm

gugie
Vídeo da performance 'obra de arte'
Com as suas obras, Gugie, se propõe mostrar a sensibilidade de suas relações afetivas, como por exemplo, obras de seus amigos e da suas duas filhas. Em suas obras, traz à tona o seu lado materno junto com os desafios, pesos, como também a importância de mostrar como é ser uma mãe artista.
Performance "Obra de Arte. Vivo, logo arte. Arte, logo vivo." na Bienal Black Brazil Art 2019, Gugie com sua filha no colo tenta conciliar a criança, às tinta de spray, pincel, livros, roupas, entre outras coisas em suas mãos, inevitavelmente as coisas caem, menos a criança. E nisso, recalcular as mudanças que acontecem, algumas coisas ficam, outras vão.

Vulcanica
.Pokaropa
Mordida de Amor
Travesti, artista circense, artista plástica, mestra em teatro, doutoranda em artes.
A performance de Vulcanica Pokaropa, proclama a vivência como travesti, com os problemas gerados pelo machismo e as violências.
“Performance é uma forma de se expressar com o seu corpo, objetos e vestimentas em uma apresentação.”

“Se no fim, eu sou mesmo tão quebrade assim,
Então pouco importará para mim,
O que vão pensar os azuis e as vermelhas, e aliás,
Quanto mais eu tentar me afastar,
Mais belo será o meu dançar,
E em meio a escuridão verão o meu LILÁS.”
Zara Dobura
Poema 'TransPersona'
Zara Dobura é multiartista que faz teatro, performance, música, poema, dança, cinema, modelo e artes visuais. Seu enfoque é trabalhar com as questões sociais, possui pautas decoloniais, anticapitalista e sobre LGBTQIAP+
Técnica artística: As poesias e slam desta artista possuem características de ser feitas em versos com rima podendo ser dramáticos, narrativos e lírico